Abobrinhas #03
Industrialização do caldo de cana; Guaraná; ludismo à brasileira; shoppings feios; Jotácá; governar é…; O fuscaço do Itamar
Os franceses — e, acho, os argentinos também — cultivam um orgulho de não se industrializarem a níveis americanos (não me venham, por favor, com papinho de estadunidense). É um orgulho justo, até louvável, aliás, eu acho que concordo com eles. Daí deriva uma suposta preferência por produtos de pequenos produtores, aqueles queijos que só vendem no St. Marche, e, suponho, até a valorização do patrimônio histórico vem em parte dessa alma.
Enfim. Nós, brasileiros, não temos muito bem definido esse orgulho. Eu sinto que ele está lá, se pensássemos nisso talvez concordaríamos mais com os franceses, mas não pensamos. Apesar disso, o subdesenvolvimento nos ajuda a manter, meio esquecido mas ainda vivo, esse espírito. Acredito que a falta de uma multinacional produtora, em grande escala, de doce de abóbora é uma vitória. Pé-de-moleque e paçoca têm sua grande empresa, mas sinto que eles são singelos. E, acima de tudo talvez, não termos caldo de cana em lata.
Mesmo assim, importante ressaltar: tubaína e guaraná são melhores que qualquer refri deles lá.
Há um movimento ludista brasileiro? Acho que o movimento armorial do Suassuna era meio isso, não? Faltou um movimento ludista em São Paulo.
Voltemos a falar de arquitetura. (O leitor talvez repare que é um assunto frequente, mas enfim, o homem só tem 5 obsessões na vida e tal). Uma coisa ininteligível para mim: por que shopping é, via de regra, tão feio? Assim, quero dizer, os mudernista tinham lá suas justificativas filosóficas, as construtoras de minhacasaminhavida têm suas justificativas econômicas, mas e os shoppings? Custou caro já, não custava ser bonito, custava?
“Por que, Deus, o JK parece uma impressora?”
Agora eu pensei na ambiguidade de alguém achar que o ex-presidente Juscelino Kubitscheck parece uma impressora. Me perdoem, eu estava pensando no Shopping JK, em São Paulo.
Aliás, o Jú me parece uma espécie de Midas invertido do Brasil. O homem legou Brasília, incluindo aquela estátua URSS aesthetics e, depois de morrer, ainda batizaram uma série de tralha com o nome do finado. O shopping em SP é feio (a avenida toda não é lá muito legal, aliás); tem o prédio em BH que também não é dos mais bonitos. No máximo se salva a Pampulha…
O Paulo Francis uma vez disse que o Itamar não era um Fujimori por incompetência. Tenho a impressão que também faltou competência para o Jóta se tornar um Vittorio Emannuelle. Se dependesse do Niemeyer, a Itália ainda estaria dividida em principados.
“Governar é construir palácios, galerias ecléticas e monumentos equestres”
Um artista é contratado para fazer um momento equestre de Itamar. No lugar do cavalo, um fusca.
Por hoje é só, caro leitor. Espero que tenha valido o seu tempo e que o senhor tenha aprendido a não confiar seus planos de consolidação de poder central a arquitetos modernos. Caso ainda não tenha cadastrado seu e-mail, considere a opção, tem até um botão aqui em baixo para te facilitar. Voltamos, se tudo der certo, na semana que vem! Fiquem com Deus!